VIOLENTADA E HUMILHADA - O ESTUPRO DE DINÁ
O ESTUPRO DE DINÁ
Diná (Diynah, que significa "julgamento")
Por Márcia Heuko
Imagem: Avi Katz
Lemos em Gênesis o relato de um estupro que gerou a morte de muitas pessoas. O texto descreve uma memória de violência, dor, decepção, vingança, roubo e assassinato:
"Diná filha de Jacó é violentada por Siquém, filho de Hamor (líder dos heveus e da região onde o estupro aconteceu). Após violentar Diná Siquém se apaixona por ela e pede que seu pai a peça em casamento para ele. Jacó fica sabendo do que aconteceu mas não toma nenhuma atitude, e quando seus filhos souberam ficaram indignados e furiosos. Hamor procura negociar o casamento em troca de favores financeiros e outros benefícios, mas os filhos de Jacó exigem que todos os homens da cidade sejam circuncidados como eles, pois do contrário não teria acordo.
Hamor e Siquém concordam com a condição e todos os homens da cidade, inclusive Siquém são circuncidados.Três dias após a circuncisão os homens sentiam fortes dores, então Simeão e Levi, filhos de Jacó, entraram na cidade sem ninguém notar e mataram todos os homens, inclusive Hamor e Siquém, e depois resgataram Diná. Os outros filhos de Jacó roubaram as coisas de valor que havia na cidade e levaram como prisioneiras as mulheres e as crianças para se vingar. Jacó exorta Simeão e Levi, e eles alegam que a vingança foi para defender a honra da irmã." (Resumo de Gênesis 34.1-31)
A primeira impressão que temos é de uma história romântica que começou de maneira truncada, e que caminhava para uma solução passiva, onde o casamento estaria reparando o erro e dois povos se uniriam, mas haviam intenções enganosas de ambos os lados, onde um povo queria se dar bem e o outro só buscava a vingança, pois nas entrelinhas dessa possível união há uma estratégia de Hamor para aliançar-se com o povo de Israel e assim partilhar dos bens materiais e das bênção do Deus de Israel. Siquém era heveu, raça pré-cananéia da Palestina, ele era o mais respeitado da família de Hamor (v.19), seu padrão moral o levou a um seqüestro sequestro seguido de estrupro, como seria então a índole dos outros heveus?
Os heveus queriam casar Diná com Siquém (v. 8) em troca de um dote sem limites (v. 11,12), todos ficam parentes casando filhos e filhas dos dois povos (v. 9), e os israelitas passam a morar e negociar na cidade, investindo inclusive em terras (v. 10). Contudo não podemos esquecer que os heveus eram um povo idólatra e sem aliança com YHW (Deus), aceitar uma circuncisão apenas para que Siquém se case com Diná não parece algo tão amigável para um povo com a fama dos heveus, a não ser que hajam interesses escondidos. Além do mais uma aliança com o “Povo da Promessa” seria algo muito lucrativo para eles, pois Jacó possuía muitos bens que os heveus invejavam (v.23).
Os israelitas, tomados de indignação e fúria pela vergonha coletiva de Israel e a desonra de Diná (v.7) procuram vingança (v. 13). Os israelitas tinham um a aliança com Deus (YHWH) selada pela circuncisão, e portanto exigem que os heveus sejam circuncidados também (v. 14,15), então após a circuncisão poderia haver casamentos entre eles. (O fato de citarem “nossas filhas” no v.16 nos leva a concluir que os filhos de Jacó já estavam adultos e casados, e Jacó já tinha netas.)
Na sequência do relato bíblico, os heveus são circuncidados (v.19), ou seja, uma cerimônia sagrada foi praticada visando um fim pecaminoso. Ao terceiro dia da circuncisão normalmente os homens sentem mais dor por causa da lesão provocada pela circuncisão, portanto estavam incapacitados para lutar, e este era o momento ideal para Simeão e Levi executarem sua vingança (v.25) e resgatarem Diná. Possivelmente Simeão e Levi já tinham seu próprio clã e estes os ajudaram na empreitada pois eles mataram muitos além de Hamor e Siquém (v.26,27). Após a vingança, os outros filhos de Jacó roubam a cidade e também fizeram mulheres e crianças prisioneiras (v.27-29), mas Jacó exorta apenas Simeão e Levi (os únicos irmãos maternos de Diná) por colocá-lo numa situação difícil, que suscitou o ódio dos povos sobre os israelitas; Jacó temia retaliação e morte de toda a sua família (v.30). Na versão Almeida Revista e Corrigida Jacó diz: "Tendes-me turbado, fazendo-me cheirar mal entre os moradores desta terra..."
Jacó em seu leito de morte amaldiçoou Simeão e Levi (Gn. 49.5-7), e passadas algumas gerações eles e seus descendentes perderam a parte da terra prometida que lhes cabia.
O QUE APRENDEMOS COM ESTA PASSAGEM?
Não é de se admirar que neste capítulo da Bíblia o Senhor Deus não é citado, pois Deus não pactua com homens que buscam justiça com as próprias mãos.
A VINGANÇA PERTENCE AO SENHOR E NÃO AOS HOMENS:
Meus queridos irmãos, nunca se vinguem de ninguém; pelo contrário, deixe que seja Deus quem dê o castigo. Pois as Escrituras Sagradas dizem: “Eu me vingarei, eu acertarei contas com eles, diz o Senhor.” (Romanos 12.19 - Levíticos 19.18; Hebreus 10.30).
(Autores consultados: H. L. Ellison, D. F. Payne, F. F. Bruce, R. Shedd)