PENTECOSTES - Que línguas estranhas eram aquelas?
ANÁLISE TEXTUAL - Atos 2
Este é um estudo indutivo do Livro de Atos, capítulo 2, que descreve o Pentecostes. A análise se baseia no texto original que foi escrito em grego. Entender o significado das palavras originais fará grande diferença na interpretação do que costuma-se chamar no meio cristão de "dom de línguas".
Acompanhe a leitura:
1Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar.
Pentecostes – Πεντηκοστή (pentékosté, quinquagésimo dia). A “festa do pentecostes” ou “festa das semanas”, é celebrada em Jerusalém cinquenta dias após a Páscoa por gratidão pela colheita. (leia Lv 23.15; Dt 16.9; At 20.16 e 1Co 16.8).
2De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados.
Som – Ηχος (echos). Uma das traduções possíveis para esta palavra faz referência ao som das ondas do mar (é a mesma palavra usada em Lc 4.37; 21.25; Hb 12.19).
Vento – Πνοη (pnoe). Pode ser traduzida ainda como: sopro, sopro de vida. É citada apenas neste versículo e em At 17.25 onde lê-se que Deus é o “fôlego (pnoe) de vida”.
Forte – βιαίας (biaias): Forte, violento, impetuoso. Esta palavra é citada apenas neste versículo.
O que ocorreu naquele momento, em tradução literal, é que: o “fôlego de Deus” entrou impetuosamente naquela casa, e seu som era como um bramido de ondas do mar.
3E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles.
Viram - ὤφθησαν (ōphthēsan). Segundo o Léxico Strong, esta palavra pode ser traduzida por: a) ver com os olhos; b) ver com a mente, perceber, conhecer; c) tornar-se conhecido pela experiência, experimentar; d) ver, olhar para; e) Eu fui visto, mostrei-me, tornei-me visível.
Separaram - Διαμεριζόμεναι (diamerizomenai): Distribuíram.
Pousaram - ἐκάθισεν (ekathisen). Segundo Strong, seriam traduções possíveis: conferir um reino a alguém; ter residência de alguém fixa; permanecer, assentar, estabelecer-se.
Desta forma, este versículo literalmente diz que Deus permitiu a eles verem as chamas de fogo, e naquele momento o Espírito de Deus estabeleceu-se neles, “conferiu, outorgou a eles o reino”.
4Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava.
Cheios - ἐπλήσθησαν (eplēsthēsan). Significa: ser completado, ser preenchido. Sem o Espírito Santo eles ainda não estavam “completos” para obra que Jesus tinha para eles. (leia Lc 1.15, 41,67; At 4.8, 31; 9.17; 13.9).
Noutras - ἑτέραις (heterais). Palavra usada para diferenciar algo de uma pessoa para outra. O que denota que eles receberam idiomas diferentes uns dos outros.
Línguas - γλώσσαις (glōssais). Além da tradução óbvia, “membro do corpo, órgão da fala”, também exprime “idioma ou dialeto usado por um grupo particular de pessoas, diferente dos usados por outras nações”. Ou seja, eles não falaram línguas estranhas de se entender, mas línguas estrangeiras, outros idiomas.
Sendo assim, o que este versículo está afirmando é que eles ficaram cheios do Espírito Santo para iniciar sua missão de evangelizar, e é claro, para isto eles precisavam ser capacitados para falar novos idiomas, uma nova linguagem que antes era “estranha para eles”, (isto fica claro no próximo versículo).
5Havia em Jerusalém judeus, tementes a Deus, vindos de todas as nações do mundo. 6Ouvindo-se o som, ajuntou-se uma multidão que ficou perplexa, pois cada um os ouvia falar em sua própria língua.
Ouvia - ἤκουον (ēkouon): Além da tradução “estar dotado com a faculdade de ouvir”, e, “perceber pelo ouvido o que é dito na presença de alguém”, traduz ainda: Compreender, entender.
7Atônitos e maravilhados, eles perguntavam: Acaso não são galileus todos estes homens que estão falando? 8Então, como os ouvimos, cada um de nós, em nossa própria língua materna? 9Partos, medos e elamitas; habitantes da Mesopotâmia, Judeia e Capadócia, do Ponto e da província da Ásia, 10Frígia e Panfília, Egito e das partes da Líbia próximas a Cirene; visitantes vindos de Roma, 11tanto judeus como convertidos ao judaísmo; cretenses e árabes. Nós ouvimos declarar as maravilhas de Deus em nossa própria língua! 12Atônitos e perplexos, todos perguntavam uns aos outros: Que significa isto? 13Alguns, todavia, zombavam deles e diziam: Eles beberam vinho demais.
Imagine você com um grupo de pessoas, e de repente elas começam a falar um idioma que você não conhece. Você não ficaria perplexo? Não pensaria que estão bêbados? Na realidade, o que aconteceu foi que o Espírito Santo permitiu que os “galileus”, falassem novos idiomas. E eles falaram na língua materna dos ouvintes, e eles eram: partos (Pártia, um distrito da Ásia), medos (Meda ou Média, região da Ásia da qual a principal cidade era Ecbatana), elamitas (província de Elão, região que se estende ao sul do Golfo Pérsico), mesopotâmios (Mesopotâmia), judeus (Judeia, num sentido amplo, refere-se a toda a Palestina), capadócios (Capadócia), pontos (região ao leste da Ásia Menor), asiáticos (Ásia proconsular, que corresponde à Turquia de hoje), frígios (Frígia), da Panfília, egípcios (Egito), libaneses (Líbia), cireneus (Cirene), romanos (Roma), cretenses (Creta) e árabes (Arábia).
Lemos no Antigo Testamento que no princípio “em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar” (Gn 11.1), mas no episódio conhecido como “torre de Babel ”foi necessário que Deus multiplica-se as linguagens para impedir o homem de cometer erros (Gn 11.6, 7). Agora, com a Nova Aliança, Deus restituiu aos homens a capacidade de entender linguagens diferentes através do Espírito Santo para a propagação do Evangelho. Portanto, em Pentecostes eles não falaram palavras sem sentido, pois os ouvintes entenderam que os discípulos falavam das “maravilhas de Deus” (verso 10).
Quando Jesus abençoou os discípulos para iniciar o trabalho de evangelismo Ele prometeu que seus discípulos e os novos crentes iriam falar novos idiomas. Do contrário como o evangelho poderia se proclamado entre os povos que falam outros idiomas? Veja: “Estes sinais acompanharão aqueles que creem: em meu nome, expulsarão demônios; falarão novas línguas (γλώσσαις, glōssais, idiomas).” (Mc 16.17). Algumas pessoas recebem o dom de falar “vários idiomas (γλώσσαις, glōssais), e outros recebem o dom de traduzir. (1Co 12.10, 28, 30).
O Senhor disse que Ele será louvado em todos os idiomas. Leia: ... “Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua (γλώσσαις, glōssais, idiomas) dará louvores a Deus.” (Rm 14.11; Fp 2.11). Em Apocalipse, cada vez que o Senhor menciona a palavra “nações” junto Ele fala “idiomas” (5.9; 7.9; 10.11; 11.9; 13.7; 14.6; 17.15).
Em Atos 10.44 e 45 a palavra é a mesma: “Enquanto Pedro falava estas palavras, o Espírito Santo caiu sobre todos os que ouviam a mensagem. E os fiéis que eram da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo. Pois eles os ouviam falando em línguas (γλώσσαις, glōssais, idiomas) e engrandecendo a Deus.”
Também quando Paulo batiza alguns discípulos em Éfeso, o mesmo ocorre, e o texto usa exatamente a mesma palavra. Veja: “E, quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo veio sobre eles, e tanto falavam em línguas (γλώσσαις, glōssais, idiomas) como profetizavam.” (At 19.6).
Quanto ao capítulo 14 de 1Coríntios, a palavra γλώσσαις (glōssais, idiomas) aparece 15 vezes. Ou seja, Paulo também está falando sobre idiomas estrangeiros, e não sobre “línguas estranhas” (palavras sem sentido). Quem sabe o verso 2 dê algum sinal de um idioma que não é conhecido, mas apenas um versículo não é suficiente para basear uma doutrina. No verso 9 Paulo fala: “Se com a língua não disserem palavra compreensível, como se entenderá o que é dito? Porque vocês estarão como que falando ao vento.” No verso 13 e 16 ele diz que quem fala em línguas, ore para que as possa interpretar, e diz ainda que não há como os ouvintes dizerem amém após uma oração feita numa língua que nem dá para entender o que foi orado.
Paulo também diz, ainda em 1Coríntios 14: “Na igreja prefiro falar cinco palavras com o meu entendimento, para instruir os outros, do que falar dez mil palavras em línguas.” (verso 19). Se toda a igreja falar em línguas, aqueles que ainda não são cristãos vão entrar na igreja e pensar que todos estão loucos (verso 23). E ainda dos versos 26 a 32: “... No caso de alguém falar em línguas, que não sejam mais do que dois ou, quando muito, três, e isto sucessivamente, e haja alguém que interprete. Mas, não havendo quem interprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus...
Em 1Co 13. 1: “Ainda que eu fale as línguas (γλώσσαις, glōssais, idiomas) dos homens e dos anjos...”. Atente que em todos os textos bíblicos onde os anjos falaram com alguém, em nenhum deles houve a necessidade de intérprete. Os anjos sempre falaram no idioma de quem recebeu a mensagem.
Que o Espírito Santo os edifique. Abraço fraternal.
Me. Márcia Heuko
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